O consumo desenfreado deste medicamento revela como a sociedade busca uma ação imediatista em vez do auto conhecimento
A nossa sociedade clama por tratamentos que sejam efetivos para a obesidade. Recentemente, o medicamento Ozempic se tornou um dos artigos mais desejados - ouso dizer, comparado ao desejo pelos artigos de luxo, já que o seu custo/tratamento é elevado.
É inegável que o Ozempic (análogo de um hormônio chamado GLP-1) tenha suas funções, empregabilidade e resultado, mas ele se torna um potencial risco quando sua venda é feita sem receita médica e sem acompanhamento profissional devido. Assim como qualquer outro medicamento, substâncias (mesmo as “naturais“) expõem nosso corpo a riscos e precisamos estar atentos a sintomas adversos, que vão desde insônia a alterações gastrointestinais.
Quando bem indicado e utilizado de maneira correta, ele de fato faz jus aos inúmeros estudos científicos que comprovam sua eficácia no tratamento para diabetes tipo 2 e obesidade. Mas você já parou para pensar ou mesmo notou que ao seu entorno muitas pessoas estão usando de maneira aleatória e sem aparente necessidade? O que isso nos revela?
Em meio às minhas reflexões como um ex-obeso que tentou inúmeras formas de tratamento sem sucesso e carregando mais de 10 anos de atuação no campo de emagrecimento como médico, percebo que entramos novamente em um momento sombrio e tenebroso, onde as pessoas não estão preocupadas em descobrir de fato o que fazem elas engordarem ou até mesmo revisitar conceitos de sua própria vida e reavaliar todo seu estilo de vida.
Observo que a utilização desenfreada desse medicamento nada mais é do que o reflexo de uma sociedade cada vez mais doente e em busca de alternativas imediatistas. A grande maioria espera ficar sem comer para emagrecer, vomitar, ter náuseas insuportáveis que as impedem de se alimentar e acabam negando a possibilidade de se reeducarem, em todos os aspectos, inclusive o alimentar.
Com a pandemia, muitos pensavam que o comportamento social também iria mudar e que o processo de autoconhecimento gerado por esse extenso momento de medo, dor e ansiedade pelo desconhecido, causasse também uma mudança de atitude e que a atenção voltasse para o que estava acontecendo dentro de nós, conectando a nossa mente ao nosso corpo.
Mas o que se vê é que a sociedade está ainda mais reativa, buscando formas e maneiras de fugir de um processo que muitas vezes é inevitável: o de se olhar e se conhecer. Vejo diariamente pessoas usando inúmeros tipos de remédios, além do exagero dos suplementos ditos essenciais, como Omega 3 e Vitamina C, e ainda anfetaminas, antidepressivos e ansiolíticos, o que evidencia ainda mais nossa dificuldade em sentir.
É remédio para tudo: dormir, ficar acordado, ter mais ânimo, motivação, relaxar, sentir prazer, poder comer, ficar sem comer… O que esses sentimentos, sensações, sinais e sintomas dizem sobre nós? Não preciso nem ir muito além, pois nosso comportamento já mostra de maneira clara e objetiva: estamos todos adoecidos - de corpo e de alma.
Antes de qualquer ação, precisamos parar e sermos mais analíticos frente a tudo que estamos passando e enfrentando; como sociedade e mundo pessoal. Sim, precisamos de ajuda, de pessoas que tenham conhecimento e do entendimento de que podemos ser melhores, viver mais e com qualidade, sem estarmos sempre fugindo, principalmente de nós mesmos. Não basta só remediar.
Se a doença existe, se o incômodo está presente, não o banalize, busque conhecê-lo, acolhê-lo e tratá-lo de uma forma que o liberte, mas de maneira integral, levando em consideração pontos que nenhum exame ou mesmo dado estatístico possa vir a mostrar. Antes das “questões” se manifestarem em seu corpo físico, como o próprio ganho de peso, precisamos entender o componente emocional que ela representa, as histórias que existem por trás de cada questão que nos aflige e aquieta.
Muitas vezes achamos que estamos comendo para nutrir nosso corpo, mas na realidade estamos alimentando nossas emoções, mascarando uma carência, uma frustração, um medo ou uma amargura - e tá tudo bem se esse for o caso, desde que você saiba disso e que esse momento não vire uma repetição e se torne uma compulsão.
Quem controla quem? Você controla suas emoções e escolhas? Ou elas que as controlam?
A OMS mesmo define o estado de saúde não apenas como ausência de doença física, mas como o equilíbrio entre o físico, o mental e o emocional.
Não estou aqui defendendo ou recriminando. Não sou contra nenhum tratamento ou uso de substâncias, só acredito que precisamos ser mais criteriosos e entender o “para que” e o “por que” estamos fazendo aquilo. E isso vai muito além… Aprenda a ouvir o seu corpo e se cercar da ajuda correta. Você vai se surpreender em como estar em sintonia com a gente mesmo é um grande caminho de cura.
Tem alguma dúvida? Envie seu email para theo@theowebbert.com.br ou mande uma mensagem direto no meu perfil de Instagram